Qinho


O Tempo Soa, segundo trabalho solo do cantor e compositor Qinho, é um disco de quem se coloca no front, um disco de quem está a plenos pulmões, em movimento de expansão e de transpiração.

Desde Canduras, lançado em 2009 com uma formação instrumental mínima e com uma temática bem intimista, Qinho andou muito. E é possível perceber em O Tempo Soa os muitos frutos que o músico colheu ao longo destes três anos.

O projeto BléQinho, realizado em 2010, é, sem dúvida alguma, um dos pilares que sustentam a sonoridade do disco. Nele, Qinho recebeu no palco nomes como Jards Macalé, Luiz Melodia, Hyldon, Mar’tnália – que também divide os vocais com o cantor na faixa “Segredinho” de O Tempo Soa –e tornou concreto um diálogo com a música popular black/brasileira que já era presente na sua forma de compor, tocar e cantar desde os tempos idos de VulgoQinho&OsCara;, sua primeira banda.

A química deste encontro, registrada apenas em vídeo, aparece agora depurada por uma leitura bem particular desse diálogo que o cantor, junto com os produtores Bernardo Palmeira e Fábio Lima, escolheu para moldar O Tempo Soa, e também por um filtro extremamente autoral, pois Qinho é o compositor da maior parte do repertório do disco – que têm nove inéditas e “Morena”, canção pouco conhecida de Gonzaguinha gravada somente por seu piano LP O Canto Jovem de Luiz Gonzaga, de1972, e que conta com a participação especial de Elba Ramalho nos vocais.

Uma característica que também chama atenção no trabalho é sua personalidade de ‘disco de banda’. A reunião dos excelentes músicos que acompanharam Qinho nas gravações e a sintonia que eles estabeleceram com suas composições foram determinantes para este resultado. Em alguns momentos, até pelo protagonismo dos arranjos e do instrumental de boa parte das faixas, essa ‘liga’ entre o compositor e os músicos (boa parte deles integrantes da Abayomy Afrobeat Orquestra) é tão intensa que nos permite lembrar contribuições como as da Banda Black Rio e A Cor Do Som junto a Luiz Melodia e Moraes Moreira décadas atrás.

A própria posição e textura da voz de Qinho no disco em relação aos outros instrumentos é mais um fator que ajuda a reforçar essa ideia. Ao invés daquela voz que se impõem a frente do resto do instrumental e que caracteriza um disco de um cantor solo, em O Tempo Soa a voz do cantor funciona como mais um instrumento/elemento que ajuda a desenhar paisagens e sugerir sensações sonoras que transbordam do que é a canção em sua versão nua e crua. A presença das cantoras Amora Pêra e Fernanda Gonzaga em alguns arranjos vocais ressalta ainda mais esse lugar pouco usual que a voz ocupa no disco.

Mas para além de qualquer possível interpretação que tente desdobrar ou decifrar estas escolhas artísticas (e existem muitas outras que poderiam ser citadas aqui), escutar O Tempo Soa é novamente perceber Qinho como um artista de ação, um artista que está em processo de expansão. Se a trajetória de shows na rua, de trabalhos paralelos, de participações e colaborações com o trabalho de outros artistas de sua geração já era uma demonstração clara desse artista que move, em O Tempo Soa encontramos esse movimento consolidado por uma sensibilidade e por um artesanato que o torna uma experiência musical de fôlego. Uma experiência reveladora de um artista que deixa O Tempo criar novas possibilidades de poesia e som dentro do seu trabalho, de um artista que caminha e S O A.

Serviço
Qinho
Balaio Café - CLN 201, Bloco B, Lojas 19/31. Fone: (61) 3327-0732
Dia 29 de maio, às 21h
Entrada: R$10,00
Classificação não informada


Categoria: Música Data: 28.05.2012 Local: Brasília

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